
A fabricante de calçados Crocs sofreu um dos maiores sustos do mercado na última quinta-feira, 7 de agosto de 2025, quando suas ações caíram 29,2% em apenas um dia — a maior queda desde 2011. A disparada negativa acontece após a empresa projeta retração de receita entre 9% e 11% no terceiro trimestre, contrariando a expectativa dos analistas de leve crescimento.
O CEO Andrew Rees destacou que o consumidor norte-americano está adotando postura mais cautelosa diante da perspectiva de aumento de preços, o que impacta a procura por produtos considerados supérfluos. “Eles enfrentam aumentos de preços atuais e futuros implícitos, o que acreditamos ter potencial para ser um fator adicional de desaceleração”, comentou.
Além disso, a Crocs iniciou uma estratégia de contenção de custos e reduziu descontos, uma estrutura de ação com foco em manter o valor da marca, mas que pode tangible impactar o volume de vendas no curto prazo. As tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos, especialmente as vindas da Índia, também pesam no cenário, com estimativa de impacto de US$ 40 milhões no segundo semestre e até US$ 90 milhões ao ano, segundo Rees.
O contexto macroeconômico nos EUA contribui para o quadro de retração no consumo, impulsionado por juros elevados, inflação persistente, políticas comerciais instáveis e um mercado de trabalho enfraquecido. Rees admitiu que muitos clientes estão “super cautelosos” — não estão indo às lojas e o tráfego em pontos de venda como outlets e atacados, que atendem perfis de menor renda, já mostra queda.
Outro fenômeno que questiona o futuro da marca é o fim da moda dos “sapatos feios” que impulsionou a popularidade da Crocs nos últimos anos. Com o retorno da preferência por tênis atléticos, especialmente diante dos grandes eventos esportivos que se aproximam — como a Copa do Mundo de 2026 e as Olimpíadas de 2028 — marcas como Nike e Adidas ganham vantagem forte nos hábitos de compra.
No segundo trimestre, a Crocs registrou aumento de 3,4% na receita anual, alcançando cerca de US$ 1,1 bilhão — impulsionada por mercados internacionais, já que as vendas na América do Norte recuaram 6,5%. A empresa também registrou prejuízo líquido de cerca de US$ 492 milhões, devido principalmente à depreciação relacionada à aquisição da HeyDude. Mesmo assim, os lucros ajustados superaram expectativas, com US$ 4,23 por ação.
Essa combinação de fatores — mudança de tendência, comportamento mais cauteloso do consumidor e custo crescente — gerou a maior queda diária em quase 14 anos. A resposta da empresa passa por cortes de gastos, controle de estoques e redução de promoções, medidas que visam proteger a rentabilidade no médio e longo prazo.